Às alunas de Dança do Ventre, palavras vindas de pura experiencia...
Para a maioria de vocês já deve
ter chegado aquele momento em que os amigos e parentes descobrem que você faz parte
do maravilhoso mundo da Dança do Ventre. Assim, naturalmente, chegam também os
convites para apresentações em eventos ou para lecionar esta dança. Cuidado!
A dança oriental é repleta de
estereótipos em nosso mundo ocidental.
Para a maioria das pessoas, ela é considerada de caráter sexual e um
exercício físico que pode ser executado de qualquer forma sem prejuízo a saúde
física e mental de seus praticantes.
Nós, Ivis e Paula Telles, sempre
respeitamos suas características físicas e pessoais, potencial e evolução de
cada um e esperamos o mesmo respeito vindo de vocês. Vocês são o resultado de
nosso trabalho, seja como pessoas, bailarinos ou até mesmo professores. Como
demonstrar este respeito?
Traje: Caso vá fazer
alguma apresentação artística, vá com o traje adequado para aquela ocasião.
Muitas lojas ‘’especializadas em artigos de dança’’ desconhecem a verdadeira
essência cultural da Dança do Ventre e vendem os mesmos trajes característicos
de ‘’sex shop’’, assim, ao comprar e utiliza-los, você acaba reforçando o
estereótipo erótico da dança. Existem várias grifes especializadas em artigos
para dança do ventre, procure-as. Caso não tenha dinheiro suficiente para
vários trajes, compre apenas um e repita-o, é bem melhor do que passar uma
ideia que nós, praticantes e amantes deste belo estilo, sempre precisamos
brigar para retirar da cabeça das pessoas.
Coreografia: É claro que
nunca saberemos tudo, mas quando for fazer uma apresentação profissional,
prepare-se. Construa uma coreografia com leitura musical adequada e sem
repetição extrema de passos; não coloque passos que você não é capaz de
executar da forma correta assim como acessórios que você não teve treinamento
adequado para utilizar; no caso de músicas com cantores, procure saber a
tradução e historia da letra, pois pode ser que alguém da plateia conheça...;
ensaie repetidamente após a construção da coreografia tanto para gravar o que
foi feito quanto para refinar os movimentos e refletir se realmente são
adequados para você e para o público em questão. Também ensaie com seu figurino
completo(brincos, pulseiras,flores, etc...) pois assim podem ser evitados
episódios de saias caindo e brincos
lançados ao público por pura falta de bom senso da bailarina por exagerar em
movimentos inadequados ou não saber vestir seu próprio traje. E, acima de tudo,
tenham expressão, sintam verdadeiramente e transmitam para o público algum
sentimento; nada pior que ser lembrada(o) como uma(um) bailarina(o) vazio de
sentimentos, um boneco dançando num palco com um olhar vazio ou um sorriso
falso pintado no rosto , ou seja, de uma bailarina(o) você vira um (um)
dançarina(o) de dança do ventre...
Lecionar: Respeite as
características pessoais de cada aluno. Os alongamentos e movimentos devem ser
adequados à idade, tipo físico, limitações e objetivos de cada pessoa. Lembre
que lesões sérias podem ser geradas e você será culpado por isso. Ainda com
relação aos movimentos, tenha comprometimento com a execução correta aliada a
postura física, movimentos mal executados causam lesões no corpo além da
péssima estética coreográfica. Adapte os movimentos de acordo com a faixa
etária de cada aluno, a professora que permite muitos elementos sensuais a uma
turma de crianças, torna-se vulgar aos olhos do público, já a que exige demasiados
alongamentos e trabalhos físicos em uma turma de idosas torna-se negligente
para o público. E não se esqueça: a paciência e respeito às dúvidas e
limitações de seus alunos é o que realmente irá fazer sua transição de
bailarina para professora. Nunca ria de dúvidas muito menos de execuções
incorretas, não critique com sarcasmos e grosserias muito menos com comparações
à outras alunas do grupo, não existe melhor aluna ou aluno, todos nós
evoluímos, cada um em seu tempo respeitando nossas condições pessoais. Se você
acredita que é capaz o suficiente para ensinar, então deve respeitar sempre
seus alunos e ensinar que toda bailarina deve ser respeitada também. Outra
coisa que é terrível em eventos com muitas bailarinas de grupos e escolas
diferentes é o tom sarcástico nas críticas aos figurinos, coreografias,
execução de movimentos, tipos físicos e idade de outras bailarinas. Ensine a
criticar para avaliar e não cometer os mesmos erros, mas nunca para humilhar
suas colegas seja de dança do vente, seja de outros estilos pois todas nós
merecemos e devemos respeito ao amor que temos pela dança.
Aprender: Aqui nesta
listagem de respeito, o ‘’Aprender” veio por último por um motivo... Todos nós
temos algo a aprender por mais que saibamos muito. Existem pessoas com 13 anos
de danças orientais que ainda fazem aulas sejam semanais, mensais ou workshops;
isso porque? Sempre existe um movimento que você nunca viu; sempre existe um
movimento que eu ‘’acho que executo da forma correta’’ mas está errado ou pode
melhorar muito; sempre existe uma teoria sobre movimentos, ritmos e estilos que
eu desconheço. O processo de ‘’Aprender’’ é contínuo, tanto para quem quer
mostrar seu trabalho sendo bailarina, quanto e principalmente para quem deseja
ensinar. Ninguém é obrigado a saber tudo, mas todos nós temos o dever de
procurar a informação.
Nós estamos aqui. Vimos e vemos o
crescimento como bailarinos de cada um de vocês, cada dificuldade, cada
vitória, os momentos de desânimo e dificuldades pessoais, e por mais que o
tempo passe, por mais que vocês tenham aula com outras pessoas, nós Ivis e
Paula Telles sempre seremos professoras de vocês. Perguntem, o que não
soubermos a resposta iremos procurar para vocês mas não façam ‘’as coisas’’ sem
orientação.
Nos respeitem como professoras de
vocês, se respeitem como profissionais da dança, e respeitem seus colegas pois
todos nós temos muito amor a esta carreira cheia de dificuldades mas repleta de
felicidade quando estamos em um palco ou em uma sala de aula de Dança do
Ventre.
Beijos
Ivis Telles e Paula Telles
Março 2013.